sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

O MEU 25 DE ABRIL


Foi longe, bastante longe, em Luanda, onde nasci… Tinha 4 anos. Por isso, à partida, o 25 de Abril de 1974 parece pouco me dizer. Mas é claro que não é assim. No entanto, antes de dizer qual o significado que esta data tem para mim, é preciso falar um pouco do que foi o pós-25 de Abril no meu caso particular.
Em Setembro de 1975, voltámos para Portugal, de bolsos vazios. Tudo o que tinhamos, ficou lá. Trouxemos apenas uma troxa, com alguns pertences dos meus pais, poucos, e a minha boneca preferida. Depois de 5 horas de espera no aeroporto, com bombas arrebentar por cima das nossas cabeças e sem comida e água, lá conseguimos levantar vôo. O vôo da liberdade, o vôo para a segurança que era o nosso país.
Mas, tal como acontece muitas vezes, temos a fama, não temos o proveito. Quando regressámos, éramos retornados, o que para muitos, era sinónimo de ladrões. Eu com a minha tenra idade, já me apercebia da maldade que havia nas pessoas. Começou na escola e continuou até a situação esfriar um pouco. Mais ou menos 6 ou 7 anos depois.
Os tempos foram difíceis. O meu pai lá conseguiu emprego, mas a minha mãe teve mais dificuldade. Decidiu ficar comigo em casa e tomar conta de mim. No fundo o que ela iria ganhar, só daria quase para pagar o meu infantário, que na altura eram quase todos particulares e extremamente caros. E depois de tudo por que passámos, eu queria tudo, menos afastar-me dela. Como não tínhamos dinheiro para pagar uma renda de casa, vivemos num quarto alugado durante aproximadamente 6 anos. Nunca me lembro de ter faltado comida na mesa. A roupa e os sapatos usavam-se até romperem definitivamente os remendos, já os dedos dos pés espreitavam o frio do Inverno. Mas no fundo era feliz com o pouco que tinha. Dava mais valor a um chocolate que me dessem do que os meus filhos a tudo o que têm presentemente.
Chegada aqui, porque é que eu, no meio disto tudo, sou a favor do 25 de Abril? Afinal, a resposta mais simples seria deitar as culpas à revolução, pois tinha sido ela a causadora de todas as nossas dificuldades. Essa é sempre a resposta mais simples, assim como a xenofobia e o racismo são para a falta de emprego. Além disso, seria sempre um engano, pois a guerra em Angola já era insustentável.
A razão para eu ser a favor da revolução é simples: O 25 de Abril foi um marco histórico. Graças a ele temos, quanto mais não seja, o mais precioso dos bens: A liberdade de expressão. Até a liberdade de dizer mal dele, se quisermos! Ninguém nos vai prender se o fizermos.
Mas a verdade, é que no fundo, há toda uma geração que só conhece os pós 25 de Abril, ou seja, não tem esse marco nas suas vidas. Os que se lembram dele têm todos hoje mais de 37 anos! Sim... é mesmo isso: 37 anos. São homens e mulheres feitos, são o futuro imediato deste país.
No entanto, e sem nos esquecermos que a liberdade é um bem a preservar e pelo qual devemos lutar em qualquer altura, sem nos esquecermos também, que quem nesse dia se revoltou correu muitos riscos, devemos ter a consciência que em cada ano que passa, o poder vai passando para as mãos dos que já não se podem lembrar do que se passou nesse dia. Cada ano que passa, o passado é mais passado e o futuro mais futuro
O 25 de Abril é um dia que a história lembrará, como hoje lembra o 1º de Dezembro ou o 5 de Outubro. Todos eles representam, à sua maneira, uma forma de liberdade. O que temos que pensar, é que as pessoas deixarão de pautar o seu valor e as suas atitudes pelo que foram antes ou depois do 25 de Abril, como ainda é comum vermos hoje. Não se pode ser ou deixar de ser, por se ter sido ou não mais ou menos antifascista! Não é essa a questão! Os homens que hoje têm os tais 37 anos serão, já amanhã, o poder neste país. E para esses conta o futuro. O passado é história.
Também por isso, tenho pena que, hoje em dia, haja quem já tenha esquecido o significado da revolução. Quando vejo os últimos governos colocarem os números à frente das pessoas, a sede do poder à frente do dever de servir os cidadãos, o marketing à frente da verdade, penso que talvez estejamos novamente a retroceder. Talvez esteja na hora de uma nova revolução…
A Advogada do Diabo

4 comentários:

  1. Seria muito bom se alguns dos senhores militares não quizessem só para si os direitos da democracia.

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  2. Acho que a comentarista tem bem a noção do significado do 25 de Abril, embora não chegasse a referir o que ela é hoje na realidade.
    Normalmente, os jovens não associam grande importância ao acontacimento histórico.
    São ciclos da vida, que o tempo nos ensina a termos uma convição mais consentânea com a realidade. A vida é assim.

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  3. Amigo Manuel, realmente eu não presenciei o 25 de Abril mas tenho bem consciente a importância de que se reveste esta data para si e para muitas outras pessoas.

    Estou disponivel para ajudá-lo no seu trabalho.

    Cumprimentos
    Cátia

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  4. O 25 de Abril.alterou a natureza do regime politico portugues.
    Os novos dirigentes de Portugal anunciavam a democracia .
    mas quem não se lembra da guerra colonial ,tantos jovens que lá ficaram,ficaram muitas noivas desamparadas,faz parte da nossa historia.

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